Cinco - Uma ligação (Fim da primeira fase)


Ainda me lembrava claramente do dia em que saí de casa. Com meu pai berrando atrás de mim, me chingando, chingando a minha mãe... Ela havia falecido um ano antes, e desde aquele dia ele sempre chegava bêbado em casa. Eu não queria deixa-lo sozinho, mas já não aguentava mais ser maltratada e ouvir as palavras que ele costumava gritar, a ponto de todos os nossos vizinhos escutarem ele dizer eu era a culpada de tudo. Ouvia as mesmas coisas desde criança. Ele maltratava a minha mãe também. Muito mais do que a mim. E vivia repetindo que se eu não existisse, eles nem precisariam se casar, e ela não estaria passando por tudo aquilo. Às vezes ainda me lembrava de ela tapando os meus ouvidos com as mãos, na tentativa inútil de não me deixar escutar os gritos dele. Ela acabou não aguentando tudo aquilo e “tomou remédios demais”. Aí sim eu senti que a culpa de tudo era minha.
Apesar de sempre ouvir coisas horríveis todos os dias, continuei em casa o quanto pude. Inexplicavelmente, eu ainda o amava, ele ainda era o meu pai. Não tinha lembrança alguma de momentos felizes na minha infância, mas ainda o chamava de pai. Mesmo estando crescida, e sabendo o que era uma família. Até que um dia, resolvi deixa-lo e vir para o Rio, onde minha mãe havia deixado um apartamento para mim. Com um pouco de receio, mas mesmo assim, virei as costas e saí, prometendo a mim mesma que ele só veria meu rosto novamente em uma tela de tv.
Lembro que nessa noite antecedente, antes de saber se eu havia passado no teste ou não, sonhei com a minha mãe sorridente. Talvez aquilo fosse um sinal, assim como a Bárbara me ajudando a não passar o resto do dia de mau humor.
Acordei com a bagunça que a Betina fazia na minha cozinha. Ela era a única pessoa que eu conhecia que não conseguia ligar a cafeteira sem antes derrubar a cozinha inteira.
Eu: O que que você tá fazendo? Se foi pra me acordar, não tem nada, tô acostumada a dormir pouco.
Betina: Nada a ver Camis, eu só tô procurando açúcar.
Eu: Dentro das panelas? O açúcar fica do outro lado. – Mostrei a ela onde ficava. – Você sempre arruma uma desculpa pra deixar minha cozinha de pernas pro ar.
Betina: Poxa... – ela fez bico – Eu só queria fazer um café da manhã legal pra te dar uma notícia mais legal ainda.
Eu: Notícia?
Betina: É.
Eu: Que notícia?
Betina: Tem certeza que você quer saber?
Eu: Betina!
Betina: Tá, eu conto, eu conto! É que seu telefone tocou a alguns minutos atrás e eu atendi, disse que você não poderia atender naquele momento... Até porque você chegou às cinco da manhã, eu não sou malvada a ponto de não te deixar dormir mais um pouco.
Eu: E... E...
Betina: E o que mulher?
Eu: Quem era Betina?
Betina: Adivinha...
E aí, quem você acha que ligou pra camile? a emissora? o luan? alguém que não tem nada a ver com a história? a próxima fase só será postada se tivermos pelo menos seis comentários. está gostando da história? indique para seus amigos! lembre-se que um comentário qualquer é um grande incentivo pra quem escreve fanfics! beijo da dan!

Quatro - Do trabalho para a cama


Era o segundo momento do dia em que “Decida-se Camile” estava em minha cabeça. Tinha medo de que encontra-los ali pudesse influenciar (positiva ou negativamente) em alguma coisa. “Decida-se Camile, decida-se” era a única coisa que eu tinha certeza de que devia fazer. Segui em frente. Rumo à mesa oito.
Eu: Boa Noite. Gostariam de alguma sugestão ou vocês já vão fazer o pedido?
Um deles me olhou como se estivesse me reconhecendo, os outros agiram normalmente. O que eu também fiz. Estava no meu ambiente de trabalho e aquilo não podia atrapalhar meu rendimento. Além do mais, não seria pecado algum usar aquela situação a meu favor, afinal, mostraria que eu era uma ótima profissional. Eles foram como clientes normais, por exceção aquele que parecia me reconhecer. Tava me dando uma certa agonia ele me observando a cada passo. Eles foram embora no final do expediente. Quando o bar foi fechado, fui pra casa onde a Betina me esperava. Ela sabia que eu ficava nervosa na véspera do resultado de qualquer coisa.
Eu: Brigado por vir chorar comigo.
Betina: Chorar? Camile, porque você está tão negativa assim? Você sempre diz que pensamento positivo trazia coisas positivas.
Eu: Pensamento positivo te faz ser eternamente a menina do plano de saúde. Eu não quero mais isso. Vamos ser realistas?
Betina: Tá, se é pra ser realista, vamo ser realistas. Se você tem certeza de que não vai passar, porque você fez o teste afinal?
Ela tinha razão. Se eu realmente não tivesse esperanças, nem o teste faria.
Eu: Tá Betina! Agora eu vou dormir e você também, porque tem uma loja pra abrir amanhã de manhã bem cedo.
Betina: Não antes do seu telefonema.
Eu: Então liga pro seu patrão e pede dispensa.
Betina: Por falar em telefonema... O Luan ligou?
Eu: Não. Você acha realmente que ele ia ligar pra mim?!
Betina: Camile, se ele pegou seu número, é lógico que ele ia ligar. – Ela pegou meu celular.- A não ser que tenha acontecido alguma coisa.
Eu: Tipo o que? O celular ter ido parar na lavadora de roupas?
Falei rindo.
Betina: É. Tipo isso aí.
Eu: Tá ligando pra quem?
Betina: Pro Luan.
Eu: QUÊ????????????????
Betina: Ih, deu que o número não existe.
Eu: Porque será que isso não me surpreende?
Betina: Deve ter acontecido alguma coisa. E nada a ver contigo ficar falando do Luan desse jeito. Sério, você voltou diferente daquela noite, sei lá... Ao mesmo tempo que você tá irradiando felicidade, tá irradiando pensamento negativo. Deita aqui no colo da sua miguxa e conta tudo.
Eu não voltei diferente “daquela noite”. Eu estava diferente a muito tempo. Mas essa era uma das consequências de se ter uma melhor amiga desligada. Na verdade, eu tinha medo. Não queria voltar pra SP, principalmente por não ter aonde ficar.

"Nota da autora: Algumas coisas que aconteceram nessa noite, só serão descobertas nos próximos capítulos."

Três - Uma última tentativa


Era capaz de os diretores de elenco já me conhecerem. Mas eles não eram do tipo que dariam o papel por pena, eu tinha que fazer por merecer. Só tinha certeza de uma coisa: aquele era o último teste que eu faria. Se não desse certo, eu voltaria pra São Paulo. Ou talvez ficasse no Rio, já que já tinha um emprego. Filmei o vídeo de teste e saí correndo para o trabalho, mesmo aquele horário não sendo o de pico. Trabalhava como garçonete num Bar-Restaurante e como já tinha feito uma certa “amizade” com o dono, ele me liberava pra fazer testes pra Novela, Teatro e me dava uma força a mais nesse sonho.
Seu Fonseca: Como foi o teste Nina?
Ok, Nina não tinha muito a ver com meu nome, mas quando eu comecei a trabalhar, ele demorou pra lembrar meu nome e começou a me chamar de Menina. Daí o nome meio que evoluiu.
Eu: Acho que como os outros Seu Fonseca. Não tô muito animada com esse teste não. Mas eles ficaram de me ligar amanhã cedo.
Seu Fonseca: Que isso Nina, uma hora você tem de ter seu talento reconhecido.
Eu: Sabe que nem nisso eu tô acreditando mais Seu Fonseca? Mas deixa isso pra lá, vou por meu uniforme que o trabalho me chama.
Ele sorriu e eu fui para o vestuário. Coloquei meu uniforme, cabelo e maquiagem no padrão de todas as garçonetes. Éramos seis no total.
Olhei minha imagem no espelho. Será que sair da minha cidade em busca de um sonho de infância tinha sido em vão? Será que meu destino era brilhar fazendo o que eu sempre amei ou ficar a vida toda sendo garçonete? Sendo somente mais uma que não conseguiu realizar seu sonho? Como uma pessoa podia se sentir assim? A dois dias atrás eu me sentia a mulher mais feliz e realizada do mundo. Mas meus sonhos não se resumiram em um só. Um deles havia sido realizado. Eu consegui abraçar (além de outras coisas) quem sempre havia me dado ânimo pra lutar por meus sonhos. Só de lembrar dele e de onde ele estava atualmente que meu ânimo acendeu-se novamente. Enxuguei a lágrima que insistia em cair e continuei fazendo o que sempre fazia. Calcei os sapatos de salto do uniforme e pus o celular no modo “VibraCall”. Lembrei de certa pessoa que disse “Você não vai se ver livre de mim assim” e que não tinha ligado.
E se eu ligasse pra ele? Será que ele realmente teve em algum momento a ideia ou vontade de ligar pra mim? “Vamos Camile, decida-se logo.” Ligar ou não ligar? Talvez tivesse sido um sinal ou sei lá o que, mas quando ia apertar aquele bendito botãozinho pra chamar, uma das minhas colegas de trabalho entrou no vestuário.
Bárbara: Quanto tempo não te vejo, Camila!
Ela estava sendo super irônica ao falar isso. Principalmente porque ela errou meu nome, coisa que nunca havia acontecido.
Eu: Oi Bárbara.
Fingi não perceber o tom dela. A deixei no vestuário e comecei a fazer o de sempre. Além do mais, ainda era de tarde e já estava tudo movimentado, sinal de que a noite também seria. Não esperava encontrar os produtores da emissora sentados à mesa oito. Mas foi exatamente isso o que aconteceu.

Dois - O dia seguinte


Acordei me sentindo meio que diferente, não sei explicar. Parecia que tudo aquilo havia sido um sonho bom. Daqueles que são tão perfeitos que você não sabe se foi um sonho ou realidade. Mas ao contrário de outras vezes, não era um sonho. Eu sabia que tudo aquilo havia sido real, que ele esteve realmente em mim, que aquela noite ficaria pra sempre em minha memória. Eu podia fechar os olhos e me lembrar de cada momento. Liguei a cafeteira e fui para o banho. Enquanto fazia meu desjejum, o interfone tocou. Era a Betina.
Eu: Sobe.
Betina: Não precisa falar duas vezes.
O elevador nunca havia subido tão rápido até o décimo terceiro andar.
Betina: Será que dá pra minha amiguinha linda do meu coração me contar tudo?
Eu: Tudo, tudo não.
Betina: Certo, me poupe de alguns detalhes. Mas me conta desde o camarim.
Ficar com o Luan era uma coisa que muitas meninas sonhavam, inclusive eu. Ainda parecia um sonho tudo aquilo. E eu não queria que ninguém me acordasse.
Eu: Ainda não acredito que isso todo aconteceu.
A Betina me olhava meio que sonhando também.
Betina: Nem eu. A minha amiga futura estrela, ficou com o Luan.
Eu: Futura estrela. – Ri. – Falando nisso, eu tô quase desistindo disso sabia? Tô aqui a três anos e não passo em um teste sequer. Quem sabe seria melhor eu...
Betina: Para com isso. Para com isso que você sabe que eu fico chateada quando você fala assim. Além do mais, amanhã tem teste pra Malhação e eu tenho certeza que você vai passar.
Eu: Tem ideia de quantas vezes você já falou isso? Vou voltar pros comerciais de plano de saúde. Pelo menos eu já sei em quais não me meter.
Betina: Ih, a gente começou falando de uma coisa tão boa e a gora já tá assim?
Eu: É. Foi uma coisa mais do que boa, foi ótima, perfeita, que eu vou lembrar pra sempre. Pena que provavelmente não vá acontecer de novo.
Betina: Ué, ele não pegou seu celular?
Eu: Isso não quer dizer que ele vá ligar.
Betina: Liga você então.
Eu: Não. Se ele quiser falar comigo, ele liga. Não vou atrás. Além do mais, tenho quase certeza de que pra ele, eu fui que nem o Toni. E eu não quero que ele passe pelo mesmo que eu.
Rimos ao lembrar de um cara que eu conheci e que não largou do meu pé por meses.
Eu: Quer café?
Betina: Acabei de almoçar, senhora dorminhoca.
Eu: É, esqueci que já são três da tarde.
Betina: Pois é, nem todo mundo tem uma folga boa que nem a sua.
Eu: Horas acumuladas, bem. Alguma coisa me dizia que meu contato com ele ia passar do camarim, algo bem especial.
Betina: E põe especial nisso.
Eu: Foi... Sei lá, nem sei a palavra. Acho que... perfeito. Cada segundo.
Betina: Seus olhos brilham tanto quando você fala nisso.
Eu: Consequência. Pelo menos uma coisa tem que acontecer depois de uma noite mágica como essa. E essa é a única coisa, o brilho das minhas lembranças.
Betina: Não fala assim amiga!
Eu: Vamo parar de babar lembrando disso e me ajudar com o texto do teste?
Betina: É pra já superstar! – Rimos.