Três - Uma última tentativa


Era capaz de os diretores de elenco já me conhecerem. Mas eles não eram do tipo que dariam o papel por pena, eu tinha que fazer por merecer. Só tinha certeza de uma coisa: aquele era o último teste que eu faria. Se não desse certo, eu voltaria pra São Paulo. Ou talvez ficasse no Rio, já que já tinha um emprego. Filmei o vídeo de teste e saí correndo para o trabalho, mesmo aquele horário não sendo o de pico. Trabalhava como garçonete num Bar-Restaurante e como já tinha feito uma certa “amizade” com o dono, ele me liberava pra fazer testes pra Novela, Teatro e me dava uma força a mais nesse sonho.
Seu Fonseca: Como foi o teste Nina?
Ok, Nina não tinha muito a ver com meu nome, mas quando eu comecei a trabalhar, ele demorou pra lembrar meu nome e começou a me chamar de Menina. Daí o nome meio que evoluiu.
Eu: Acho que como os outros Seu Fonseca. Não tô muito animada com esse teste não. Mas eles ficaram de me ligar amanhã cedo.
Seu Fonseca: Que isso Nina, uma hora você tem de ter seu talento reconhecido.
Eu: Sabe que nem nisso eu tô acreditando mais Seu Fonseca? Mas deixa isso pra lá, vou por meu uniforme que o trabalho me chama.
Ele sorriu e eu fui para o vestuário. Coloquei meu uniforme, cabelo e maquiagem no padrão de todas as garçonetes. Éramos seis no total.
Olhei minha imagem no espelho. Será que sair da minha cidade em busca de um sonho de infância tinha sido em vão? Será que meu destino era brilhar fazendo o que eu sempre amei ou ficar a vida toda sendo garçonete? Sendo somente mais uma que não conseguiu realizar seu sonho? Como uma pessoa podia se sentir assim? A dois dias atrás eu me sentia a mulher mais feliz e realizada do mundo. Mas meus sonhos não se resumiram em um só. Um deles havia sido realizado. Eu consegui abraçar (além de outras coisas) quem sempre havia me dado ânimo pra lutar por meus sonhos. Só de lembrar dele e de onde ele estava atualmente que meu ânimo acendeu-se novamente. Enxuguei a lágrima que insistia em cair e continuei fazendo o que sempre fazia. Calcei os sapatos de salto do uniforme e pus o celular no modo “VibraCall”. Lembrei de certa pessoa que disse “Você não vai se ver livre de mim assim” e que não tinha ligado.
E se eu ligasse pra ele? Será que ele realmente teve em algum momento a ideia ou vontade de ligar pra mim? “Vamos Camile, decida-se logo.” Ligar ou não ligar? Talvez tivesse sido um sinal ou sei lá o que, mas quando ia apertar aquele bendito botãozinho pra chamar, uma das minhas colegas de trabalho entrou no vestuário.
Bárbara: Quanto tempo não te vejo, Camila!
Ela estava sendo super irônica ao falar isso. Principalmente porque ela errou meu nome, coisa que nunca havia acontecido.
Eu: Oi Bárbara.
Fingi não perceber o tom dela. A deixei no vestuário e comecei a fazer o de sempre. Além do mais, ainda era de tarde e já estava tudo movimentado, sinal de que a noite também seria. Não esperava encontrar os produtores da emissora sentados à mesa oito. Mas foi exatamente isso o que aconteceu.

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